quarta-feira, 4 de maio de 2011

ORIXÁ TEMPO



Quatro é o número da Terra; quatro foram os dias que Olorum levou para criar o mundo; a cada dia, Olorum criou quatro Odus – num total de 16; quatro são as estações do ano: verão, inverno, outono e primavera; quatro são os elementais da natureza: fogo, água, terra e ar. Ligado a este numero quatro, está o Orixá Tempo – de origem Angola e Congo – semelhante ao Iroko, da Nação Ketu e a Loko, de Nação Jeje.

Tempo é o senhor das estações do ano; regente das mutações climáticas. Pai da maionga, o banho da Nação Angola.

Tempo está sempre em movimento, entre uma e outra extremidade dos pólos. Ora está em Exu – equilíbrio negativo do Universo – oras está em Oxalá – equilíbrio positivo do Universo – ora intermediário entre um e outro pólo. Tempo é equilíbrio e desequilíbrio, ao mesmo tempo. Ele é o segundo, o minuto, a hora.

Nas casa de Angola, Tempo é reverenciado com o Pai da Maionga, do banho, que vai purificar o corpo dos seguidores e iniciados no culto, no momento de maior energia, e vibração deste Inkice (Orixá). Momento, também, de maior purificação, feita através do banho com ervas, água do mar, de cachoeira, de rio, de mina e de chuva, etc.

Tempo está ligado ao meio ambiente, pois qualquer choque ambiental tem a sua regência. Ligado intimamente aos quatros elementais da Natureza, Tempo viaja por todos eles, num movimento constante, alterando infinitamente o tempo. Sem esse movimento, viveríamos o mesmo segundo sempre, melhor, “sempre” não existiria. Com o tempo parado, não poderia existir vida de nenhuma espécie. A este Orixá, também chamado de Kitêmbo, foi designado e controle do ambiente, a passagem dos segundo, minutos e horas, dando sentindo aos dias, semanas, meses, anos, décadas, séculos e milênios. Ele é o próprio nome: Tempo.

Tempo (Kitêmbo) rege as estações do ano, como já disse. Ele é o responsável pela passagem de um a para outra. Está ligado ao frio, ao calor, à seca, às tempestades, ao ambiente pesado e ao ambiente agradável.

Kitêmbo é a escala do tempo, por isso sua ferramenta é uma escada, em referencia ao crescimento do tempo em nossa volta. É a energia em constante deslocamento nos quatro pontos cardeais: norte, sul, leste e oeste. Viaja pelos quatro, constantemente, sem parar. E nem poderia!



Mitologia

Os Angolas e os Congos, que cultuam os antepassados, contam uma historia sobre esse Inkice (Orixá). Relatam que ele era um homem muito agitado, que resolvia varias coisas ao mesmo tempo e que realiza varias tarefas de uma só vez.

Reclamava, entretanto, que o dia era muito pequeno e que não conseguia realizar tudo aquilo que desejava, nos prazos estabelecidos por ele mesmo. Reclamava demais. Cobrava de Zambi (Oxalá nas nações Angola e Congo) ter nascido lento e incapaz de realizar tudo o que pretendia, mesmo que, na realidade, fosse um homem forte, veloz, astuto e competente. Mesmo assim, não se considerava capacitado para realizar seus objetivos e acusava Zambi de ter feito o dia muito pequeno.

Um dia, Zambi lhe disse:

- Você e muito afoito. Parece que errei em sua criação, pois você não se conforma com o eu feito.

E ele retrucou a Zambi:

- Não tenho culpa se o Senhor, Pai, fez o dia tão pequeno. As horas são tão miúdas que não dá tempo para realizar tudo aquilo que planejo!

E Zambi, aborrecido, mas admirado pela coragem do seu filho, determinou então:

- Já que você considera que o tempo é pequeno, passará,então,a controlá-lo e administrando o verão, o inverno, o outono e a primavera. Andará, então, pelo fogo, pela água, pela terra e pelo ar. Não terá, mas problemas de tempo. Será, então conhecido com Tempo e regerá os movimentos da Natureza.

E, na terra, o povo clama o seu Inkice entoando a cantiga:



“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!

E Tempo para trabalhar...

“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!

E Tempo para comer...

“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!

E Tempo para beber...

“ E Tempo Zará... e Tempo Zará Tempo ô!

E Tempo para viver...”

ORIXÁ TEMPO! SALVE TEMPO! ZARA TEMPO!!!

Qualquer casa DE RAIZ AFRICANA que se preze tem no seu quintal uma bandeira
branca presa a um mastro(ao entrar em nossa casa, você verá presa a um bambú e tremulando no alto nossa bandeira do senhor tempo,para nós muito sagrada) e que apresenta embaixo um pequeno recinto
destinados às oferendas. Esse é o símbolo da presença do orixá Tempo na
casa, e que quer dizer mais ou menos isto:

- Aqui aprendemos a respeitar o Tempo!

O tempo comanda os ciclos da vida:infância,juventude,maturidade,os três ciclos de nossa vida que representam grandes mudanças em nossa forma de ver e agir,tudo comandado pelo orixá tempo.Ao senhor tempo,oferendamos sementes,grãos e maracujás maduros,a ele rendemos graças e homenagens,pedimos equilíbrio para superar as dificuldades inererentes a cada ciclo de nossa existência terrena.ZARA TEMPO!!SALVE TEMPO!

Cada vez que um filho começa a mudar o seu comportamento, o Babalawô(DIRIGENTE ESPIRITUAL)
o coloca para conversar na Casa de Tempo(próximo a bandeira) para que essas mudanças
comportamentais, comuns às diversas possibilidades sociais que temos em
vida, possam ser melhor traduzidas pelo orixá responsável por tais ajustes,
cujo nome é Tempo, ou, se preferirem:

Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Oh Tempo Rei!
Transformai
As velhas formas do viver
Ensinai-me
Oh Pai!
O que eu, ainda não sei
Mãe Senhora do Perpétuo
Socorrei!…

As três estrofes dessa música, se prestam justamente a tentar traduzir, de forma
mais racional, às súbitas mudanças comportamentais nossas através do tempo.
É até engraçada a forma que Gil usou para mostrar que isso ocorre com
toda a sociedade, neste fragmento:

Mães zelosas
Pais corujas
Vejam como as águas
De repente ficam sujas…

Não é muito distante o tempo em que se usava a expressão: “Pai zeloso e
Mãe coruja”, pois esse era o nosso padrão social, quando o homem da casa
saía para ganhar o dinheiro necessário e a esposa ficava cuidando dos filhos
do casal, com a corujice típica de quem queria provar, para si mesmo, ter
feito um bom trabalho. Mas os tempos mudaram e as coisas ficaram meio
invertidas.

Creio que Gil tenha usado a expressão “águas sujas” mais por questão de
rima, com “coruja”, quando, dependendo de quem interpreta, o mais correto
seria dizer “águas turvas”.
Com certeza,Gilberto Gil falava sobre o orixá tempo nessa canção...

Poderia eu falar mais desta maravilhosa e tão importante força da Natureza mas, no momento, falta-me tempo!

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