A cerimônia do ajucá ou jurema, praticamente desapareceu do Brasil , muito embora ainda existem povos que ainda a pratique, e é um dos rituais que combina elementos cristãos, indígenas, espíritas e afro-brasileiros.
O nome jurema é originário de uma árvore (acácia jurema), cujas raízes os pajés faziam uma bebida alucinógena capaz de produzir sonhos adivinhatórios.
O antigo ritual realizado pelos indígenas, supunha que os guerreiros poderiam viajar ao mundo dos espíritos tomando a poção. Os índios sonhavam, mas eram somente as mulheres que interpretavam tal sonhos e podiam revelar o passado e o futuro.
Dois grandes grupos indígenas praticavam este ritual: os jês (tapuias) e os karirís. Os detalhes destas cerimônias ficaram perdidos para sempre, pois nenhum historiador ou escritor se preocupou em escrevê-los.
Até o século XIX, o fato de beber jurema era considerado um ato de bruxaria ou prática de magia e seu uso era secreto. Alguns indígenas foram presos praticando este ritual, entretanto foram ele que ensinaram aos brancos e mestiços o uso da planta.
A infusão de jurema é preparada com suas raízes, que devem primeiro serem raspadas para eliminar a terra que nela se apresenta agregada e depois serem muito bem lavadas. Em seguida, a raiz deve ser colocada sobre uma pedra e macerada com a utilização de outra pedra. A massa formada deve ser diluída em um recipiente com água. Pouco a pouco a água se transforma em um líquido avermelhado e espumoso, semelhante ao vinho, motivo pelo qual é conhecido por este nome.
As folhas de jurema também são usadas secas, misturadas ao tabaco, que são fumados em cachimbos que os indígenas faziam com o tronco da jurema. O pajé coloca o cachimbo ao contrário, onde se deposita o tabaco, e sopra sobre a poção que se encontra no recipiente. Curiosamente, forma-se uma figura em forma de cruz no líquido com um ponto em cada um dos ângulos formados pelos braços da cruz. Os galhos e as flores da jurema são destinados à rituais de limpeza que combatem o mau-olhado e eliminam qualquer bruxaria do corpo. Também servem para que os médiuns do candomblé ou da umbanda possam ver o futuro com mais clareza.
Recriação Contemporânea de um Mito
Dentre os estudos da antropologia brasileira, a Jurema ocupa um lugar singular. O próprio termo comporta denotações múltiplas, que são associadas em um simbolismo complexo. Além do sentido botânico (1), a palavra Jurema designa ainda pelos menos três outros significados:
Preparado líquido à base de elementos do vegetal, de uso medicinal ou místico, externo e interno, como a bebida sagrada, “vinho da Jurema”;
cerimônia mágico-religiosa, liderada por pajés, xamãs, curandeiros, rezadeiras, pais de santo, mestras ou mestres juremeiros que preparam e bebem este “vinho” e/ou dão a beber a iniciados ou a clientes;
Jurema sendo igualmente uma entidade espiritual, uma “cabocla”, ou divindade evocada tanto por indígenas, como remanescentes, herdeiros diretos em cerimônias do Catimbó, de cultos afro-brasileiros e mais recentemente na Umbanda.
Para o professor José Maria Tavares de Andrade (2), esse “complexo semiótico” chamado Jurema, representa até hoje, na polissemia deste termo, um ponto de vista e uma resistência étnica dos nordestinos autóctones, “um fio condutor de um traço cultural, distintivo do componente indígena da cultura popular, regional e nacional.”
Numa primeira fase da colonização, a resistência dos povos indígenas no Nordeste, não permitiu que a Jurema, enquanto árvore sagrada, fosse conhecida, em seus usos e significados, não sendo assim documentada pelos colonizadores e estrangeiros. Numa segunda fase histórica a Jurema representa um elemento ritual ligado à própria resistência armada dos povos indígenas ou à guerra empreendida contra inimigos inclusive em suas alianças. Ainda nesta fase na qual a Jurema começa a ser documentada, seu significado ainda não é entendido mas seu uso já é motivo de repressão, prisão e morte de índios, (…). Na medida em que avança o rolo compressor da colonização, processo de genocídio ou tentativa de dominação, não só política e econômica como também cultural, aparece uma nova forma de resistência: a Jurema assume um lugar central na religiosidade popular, não só indígena regional – Catimbó. Diante do componente negro a Jurema garante seu reconhecimento, como entidade (espírito, divindade, cabocla) autóctone, “dona da terra”. A Jurema é absorvida pelos cultos afro-brasileiros, tendo surgido inclusive os “Candomblés de Caboclos“. Nas últimas décadas é no contexto da Umbanda, religião nascente e em pleno processo de sistematização e de expansão nacional, que a Jurema é integrada na cosmologia sagrada, no panteão da religião nacional. Constatamos em vários estados nordestinos as “Linhas da Jurema”, dentre as linhagens e filiações religiosas da Umbanda. Nesses últimos anos, e paralelo ao movimento religioso propriamente brasileiro, a Jurema continua como “núcleo duro”, segredo, bandeira ou símbolo, para os remanescentes indígenas, em pleno “movimento étnico”, num contexto de defesa de seus direitos humanos, de suas áreas de reservas e de sua autonomia e reconhecimento no pluralismo da sociedade e das culturas brasileiras (3).
Não é difícil entender porque a Jurema seria sagrada para os índios nordestinos antes da chegada dos brancos. Segundo Andrade, “enraizamento lingüístico do termo Yu’rema na língua tupi é um forte indício de que o uso primordial, inclusive cerimonial do vinho da Jurema, além de ser herança da cultura indígena, regional, certamente já existia antes da presença dos colonizadores”.
Além de seu caráter alucinógeno (4) e do seu comprovado uso nas guerras e ritos de passagem, a Jurema, enquanto planta, desempenha um papel central no ecossistema semi-árido das caatingas nordestinas: durante os longos períodos de estiagem, quando a paisagem do sertão fica cinza e vermelho, apenas ela e o cacto do mandacaru resistem verdes e com reservas de água.
Na verdade, no auge da estiagem, a casca da Jurema seca enquanto seu interior permanece viçoso. Quando a chuva volta, a casca seca cai e a árvore reaparece jovem. Esse fenômeno dá margem a uma longa mitologia de lendas e cantos envolvendo os ciclos de sazonalidade e morte/renascimento. Mas, ao contrário do mandacaru, do qual o sertanejo pode extrair água durante a estiagem, a água da Jurema é completamente inacessível ao uso humano. No caso da Jurema, a existência de água atrai a presença de pequenos insetos e de vários níveis de pequenos predadores da cadeia alimentar do ecossistema do sertão. As cobras são habituais no juremal, tanto pela existência farta de seu alimento como pela proteção dos galhos espinhosos, impossibilitando o trânsito de animais maiores.
Este fato deu margem a uma extensa mitologia popular, cantada em pontos e chamadas tradicionais, em que as cobras protegem espiritualmente a árvore, assim como esta com seus espinhos, protege os seus répteis guardiões. Assim, centro da resistência da vida orgânica à seca, em torno do qual todo ecossistema ‘não-humano’ (na verdade, não-mamífero) da caatinga gravita, a Jurema reina no sertão nordestino, desde tempo imemoriais, às margens de qualquer socialização: trata-se apenas um local perigoso e cheio de tabus, sob múltiplos aspectos (5).
Não é difícil entender porque a planta deveria ser considerada sagrada para as tribos do sertão, antes da chegada dos colonizadores. Mas, o fato é que a sacralidade da jurema foi uma identidade étnica historicamente construída, em segredo durante a colonização por tribos litorâneas que não tinham a mesma tradição. Andrade argumenta que, durante o início da colonização, o uso da Jurema foi tolerado e aceito pelos portugueses católicos quando era canalizado para lógica de guerra contra invasores franceses e holandeses, enquanto seu uso religioso era condenado como feitiçaria. Há vários registros históricos (século XVI e XVII) sobre a eficácia militar dos guerreiros-juremeiros. Esta dupla permissão/condenação favoreceu uma expansão secreta e silenciosa da Jurema, levando o uso da bebida a ser conhecida pelas tribos amazônicas do Maranhão.
E foi assim, neste contexto contraditório, que a Jurema se firmou como prática étnica indígena e se miscigenou com os cultos africanos. E não se trata de reduzir a planta a um ‘espírito’ de uma jovem cabocla como conhecemos na umbanda contemporânea: o candomblé africano reconhece a Jurema como orixá, o único genuinamente brasileiro. É a Nação da Jurema. A Jurema chegou ao império como uma forma religiosa de resistência cultural bastante complexa, mantendo viva seu caráter guerreiro e marginal e conheceu ainda um novo ciclo de religiosidade popular – o dos mestre da jurema no camtibó nordestino, que, até a primeira metade do século XX se utilizam para desfazer feitiços e encantamentos no Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A partir deste quadro, muitas perguntas impossíveis de serem respondidas podem ser formuladas: O que aconteceu com a Jurema? Como ela se transformou de prática xamânica, desta manifestação étnica-popular secreta dos índios e negros em uma simples ‘cabocla da linha de Oxossi’, sem qualquer relação com a planta e seu consumo? Como uma tradição tão significativa desapareceu assim sem deixar vestígios?
Porém, só entenderemos o verdadeiro significado da Jurema, o motivo principal de sua ‘sacralidade’, as causas de seu misterioso desaparecimento e sua reconstrução mítica na pós-modernidade, se a relacionarmos com toda discussão contemporânea sobre ‘entheogênesis’. E é isto que tentamos a seguir.
ASPECTO ARQUETÍPICO
Quando em diferentes culturas, através da história encontramos objetos ou seres com similar significado e representação, estamos diante de um símbolo universal arquetípico. Tal caso ocorre com a algumas árvores. Elas eram sagrada tanto para os celtas, como para os indianos, entre os escandinavos e também para os indígenas brasileiros. A Gênesis fala da árvore como ciência da vida. Mas o que representa a árvore? Porque foi considerada sagrada por tantos povos distantes em tempo e espaço?
No Cristianismo à sombra de uma árvore iniciou-se a vida humana, através de Adão e Eva. E, foi ao pé de uma macieira do Paraíso, que os Pais da humanidade cometeram o pecado original. O culto do carvalho, ou do deus do carvalho, foi compartilhado com todos os povos da raça ariana da Europa. Gregos e italianos associavam a árvore ao seu deus supremo, Zeus, ou Júpiter, a divindade do céu, da chuva e do trovão. Zeus era o deus ao qual os gregos oravam regularmente para ter chuva. Para os celtas da Gália, nada havia de mais sagrado do que o visco e o carvalho no qual este crescia. Escolhiam os bosques e os transformavam em Catedrais para a realização de celebrações solenes e nenhum rito era celebrado sem as folhas do carvalho.
O simbolismo arquetípico da árvore, independem de concepções teológicas e se estende no mundo mítico. Assim, o Cristo suspenso em sua madeira da morte é o fruto do sofrimento e ao mesmo tempo a árvore da vida aparece personificada em Dionísio, o “Senhor da Uva”. A vida que atua no interior da árvore concretiza esta sua dupla natureza, ao engendrar os opostos. O mesmo é válido para árvore do conhecimento, que é identificada como a árvore da vida e da morte que é a cruz. De acordo com esse mito cristão, a cruz foi erguida no local onde existira a árvore do conhecimento e Cristo, como “fruto mítico” da árvore redentora da vida, substituiu o fruto da árvore do conhecimento, através da qual o pecado teve acesso ao mundo.
ENTHEOGÊNESIS
Entheogênesis significa ‘origem divina’ (Theo = Deus, Gênesis = Origem). A palavra ‘entheógenos’, no entanto, surgiu em contraposição a denominação de ‘alucinógenos’ para designar a utilização de substâncias químicas com finalidades místicas, religiosas ou cognitivas. Segundo seus defensores a denominação de ‘alucinógeno’ para as substâncias químicas de feito psíquico, que provocam mudanças nos estados de percepção e consciência é preconceituosa, pois embute o sentido de entorpecimento e alienação.
A partir daí há dois sentidos possíveis:
A) A hipótese de que foi a ingestão de cogumelos alucinógenos que despertaram a consciência nos macacos.
B) A enteogênesis é o uso não alienante das drogas – como prescreveram vários pensadores da Contracultura. Timothy Leary, entre outros menos famosos, defendia o caráter revolucionário da experiência psicodélica através de drogas. Para Leary, os estados alterados de consciência provocavam mudanças existenciais profundas, transformações na personalidade, tornando as pessoas mais conscientes de si.
Também Carlos Castanheda, antropólogo convertido ao sistema de ‘feitiçaria tolteca’, iniciou-se nessa tradição através da utilização das ‘plantas de poder’, principalmente a Datura (a ‘Erva do Diabo’) e o Peyote (o ‘mescalito’). A droga aqui é utilizada para romper com a descrição ordinária da realidade, com a percepção cotidiana de mundo, como uma forma de se sentir presente em outros universos dimensionais.
A droga alucina e cura, equilibra e enloquece, maravilha e vicia. É um paradoxo, um dispositivo de funções aparentemente contrárias. Entre os autores brasileiros que pensaram a questão das drogas dentro de uma perspectiva foucaultiana dos modos de sujeição, Edson Passetti (6) é talvez quem melhor coloque o papel central deste dispositivo na sociedade contemporânea.
A droga é pensada como produto médico para recolocar um indivíduo dentro da normalidade social. É também alucinógeno capaz – quando usado fora do espaço de confinamento – de fomentar ou gerar no indivíduo distorções em sua personalidade. De ambos os lados, a droga afeta a chamada alma do sujeito, quer recuperando-a quer perdendo-a. Assim, dentro da mais perfeita ordem das coisas, a droga é doença e cura, crime e lei, cujo uso é regulamentado por órgãos governamentais. (…) A relação droga e alma, essa coisa que pode ser racionalmente capturada, organizada e disposta para que o indivíduo possa viver uma suposta plenitude terrena, que as religiões não fornecem – e justamente por esse princípio contribui para a reprodução da religião -, visa combater o desprezível no interior e no exterior do indivíduo, retificando partes ou o todo. (pp.56-57)
Com o pesquisador Terence McKenna, o caráter cognitivo das drogas e da experiência psicodélica na contracultura vai se tornar uma ‘etnofarmacologia’, isto é, em um estudo sistemático das tradições de consumo de entheógenos. McKenna – autor de diversos livros sobre drogas e religiosidade contemporânea (7) – retoma a associação entre a utopia social e os estados de consciência quimicamente alterada (proposta por Charles Baudelaire e Aldous Huxley) e desenvolve ainda a idéia de que nossa experiência com o sagrado deriva do consumo de substâncias químicas e a combina com a hipótese Gaia e com um desconcertante arsenal de perguntas:
“Estaríamos ainda evoluindo as leis eternas da natureza? Existiria um reino além do espaço e do tempo que asseguraria os padrões e as condições de criatividade e de organização, e o processo evolutivo emergente – ou o universo se construiria a si mesmo à medida que fosse caminhando? As causas das coisas estariam no passado ou no futuro? Haveria algum Objeto hiperdimensional, que nos atrairia para a frente ? Seria a história apenas uma sombra que a escatologia projeta atrás de si? Seríamos nós, os seres humanos, os imaginadores ou os imaginados? Ou seria a história, de certo modo, uma co-criação – uma parceira instável, cronicamente evolvente e pusilânime entre nós mesmos e o Fazedor de Padrões hiperdimensionais? Seriam os vegetais visionários nossos potenciadores e nossos guias; e seria a teo-botânica a chave de tudo isso? Seria o caos meramente caótico, ou abrigaria a dinâmica de toda a criatividade? Que conexão existiria entre a luz física e a luz da consciência? Como transporíamos nossos limites fundamentais a fim de ingressar numa nova fase de aventura humana?” (8)
Porém, o certo é que, a partir do advento ‘Terence McKenna’, há todo um movimento em curso sobre essa história de Entheogênesis. Atualmente, na internet, tanto encontramos páginas dos grupos religiosos ligados a tradições xamânicas com a Ayahuasca (9) quanto de psiconautas e estudiosos. (10)
É bem verdade que as idéias do movimento entheógeno estão dando margem para toda sorte de teorias delirantes. Para alguns, por exemplo, o cogumelo entheogênico seria apenas o corpo físico de um ser vindo de outro planeta para colonizar a terra, um veículo biológico da memória arcaica. Por outro lado, é claro que os grupos tradicionais discordam dos psiconautas. E sobre isso há debate interessante ainda em curso. Alex Polari do Santo Daime brasileiro, por exemplo, escreveu Seriam os Deuses Alcalóides?
Mas, a verdade é que o próprio crescimento dos grupos tradicionais em progressão geométrica a nível internacional (que usam subtâncias químicas através de plantas de poder – Ayahuasca, Peiote, San Pedro) se deve ao movimento entheógeno e que este, muitas vezes, acaba influenciando e modificando bastantes aqueles – como em relação a Jurema. No artigo A Jurema em Regime de Índio (11), podemos observar o contraste de alguns aspectos simbólicos desta reconstituição do uso cerimonial da Jurema em um contexto religioso contemporâneo e entre seu contexto tradicional. E hoje é mais fácil encontrar trabalhos espirituais com a utilização da Jurema na Europa que nas caatingas do nordeste brasileiro. Vivemos um processo de reconstrução mítica globalizada, em que um símbolo/substância química de nossa consciência étnica está sendo reimportada e reinventada em um contexto contemporâneo.
NOTAS
(1) Etnobotanica da Jurema: Mimosa tenuiflora (Will.) Poiret (=M. hostilis Benth.) e outras espécies de Mimosáceas no Nordeste-Brasil.
(2) Doutor em Antropologia, GERSULP, Strasbourg. Ming Anthony, Muséum National d’Histoire Naturelle, Paris.
(3) ANDRADE, J. M – Jurema: da festa à guerra, de ontem e de hoje.
(4) A Jurema tem D.M.T. (Dimetril TriptaMina), o mesmo alcalóide psicoativo da Ayahuasca, bebida xamânica utilizada pelos índios da Amazônia Ocidental e, mais recentemente, pelas seitas religiosas do Santo Daime e da União do Vegetal. Sobre o uso dessa substância em diferentes contextos, consulte DMT World’s.
(5) Ressalte-se, inclusive, o próprio preconceito dos antropólogos nordestinos com o tema.
(6) PASSETTI, E. Das ‘Fumaries’ ao Narcotráfico. São Paulo, EDUC, 1991.
(7) MCKENNA, T. – ‘Alucinações Reais’, ‘Alimento dos Deuses’ e ‘Retorno à cultura arcaica’ Rio de Janeiro: Record/Nova Era, 1993, 1995 e 1996. Em inglês, há ainda os livros em parceria com seu irmão Dennis McKenna, The Invisible Landscape e Psilocybin: The Magic Mushroom Grower’s Guide.
(8) MCKENNA, T. ‘Caos, Criatividade e o retorno do Sagrado – triálogos nas fronteiras do Ocidente’ (em conjunto com Ralph Abraham e Rupert Sheldrake) São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1994.
(9) Mais informação sobre Ayahuasca em: www.ayahuasca.com e http://www.yage.net/
(10) Em um rápido levantamento, além de sites comerciais, descobrimentos duas revistas especializadas (Entheogen.com e Trip Maganize), três bibliotecas virtuais (The Lycaeum, Religion and Psychoactive Sacraments e The Vaults of Erowid), duas ONGs com conotações políticas (The Drug Reform Coordination Network e The Multidisciplinary Association for Psychedelic Studies (MAPS) e uma comunidade virtual (The Island Web).
(11) GRÜNEWALD, R. A. Jurema em ‘Regime de Índio’. Amsterdã: Lycaeum, 1999.
HOMENAGEM COM UM PONTO MUITO LINDO
PARA MINHA AMADA CABOCLA JUREMA
“O juremê, ó Jurema
Sua flecha caiu serena,
Ó Jurema,
Dentro desse Congá.
Salve São Jorge Guerreiro
Salve São Sebastião
Salve o Povo da Aruanda,
Que nos deu a proteção,
ó Jurema.
Juremê, ó Jurema
Sua flecha caiu serena,
ó Jurema,
Dentro desse Congá.
Salve, salve a Casa Santa
Salve a dona do Congá.
Salve a nossa mãe Oxum
Salve, salve Yemanjá,
ó Jurema.
Juremê, ó Jurema
Sua flecha caiu serena,
ó Jurema,
Dentro desse Congá.
Salve todos os caboclos
Salve todo o Jurema
Salve nossa mãe Iansã
Salve o meu pai Oxalá,
ó Jurema
Juremê, ó Jurema
Sua flecha caiu serena,
ó Jurema,
Dentro desse Congá.
Salve o povo de Oxóssi
Salve o povo de Oxalá
Salve o caboclo Flecheiro
Salve Seu Tupinambá,
ó Jurema.”
MUITO AXÉ PARA TODOS OS MEUS IRMÃOS DE FÉ!
FONTE:http://www.rosanevolpatto.trd.br/
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ENCANTARIA E JUREMA
À sombra da Jurema: A tradição dos mestres juremeiros na Umbanda de Alhandra
Sandro Guimarães de Salles
A Encantaria
A Encantaria é o resultado da fusão de todos os rituais existentes no Brasil antes da chegada do homem branco com sua cultura católica fetichista, mais a contribuição africana durante 350 anos. Tendo por tronco básico a ritualística indígena serviu de esteio e receptáculo para as demais tradições importadas. Na Encantaria poderemos facilmente encontrar traços, fragmentos e até grandes remanescências das influências ciganas, africanas, católicas, judaicas, árabes, celtas, gregas, romanas e, principalmente indígena.. Mas o grande sustentáculo da encantaria, é a cultura indígena Tupi-Guarani com sua ritualística maravilhosa, voltada para a flora e fauna com ritmos extasiantes e mágicos. Como “pangelança” no norte, “terecô” no Maranhão, “catimbó” no nordeste, “quimbanda” na Bahia, “macumba” no Rio de Janeiro e São Paulo e, “batuque” no Rio Grande do Sul, a Encantaria está espalhada por todo o Brasil sob diversas formas nomes e rituais.
A Encantaria não tem um ritual iniciático e doutrina específica. Cada casa ou “terreiro” segue sua própria doutrina, estabelecendo suas regras e forma de prática do ritual. Via de regra não estabelece raízes ou tradições sucessórias, a não ser que as tenha.
Os Encantados
Os encantados são as energias mais misteriosas e difíceis de serem definidas. São inicialmente divididas em grupos, a saber: Espíritos que viveram há mais de 100 anos (e até três mil anos), espíritos que não viveram e são etéreos e manifestam-se por holografia ou incorporação, espíritos que viveram com corpo físico e manifestam-se visualmente ou mediante contato com a dimensão paralela (quadrimensional quântica) e, finalmente os anjos das 3 categorias, “penosos”, discordantes e rebeldes, que se manifestam de todas as formas possíveis
Boiadeiros
No rol dos encantados estão todos que não são Orixás, todos que não são Voduns e todos que já são resultado da miscigenação entre Voduns e Orixás (ambos africanos), e os espíritos da terra, aqueles que já estavam aqui quando o homem branco e o negro chegaram. Vulgarmente são chamados de Caboclos em algumas regiões ou Encantados e mestres outras regiões.Um dos grupos mais presentes e pouco conhecido, é o de Boiadeiro, “O Senhor do Portal do Tempo e das Dimensões”. Atendem por nomes como Navizala, Divizala, Itamaracá, Lua Nova, Campineiro, Gibão de Couro e muitos outros codinomes que escondem sua verdadeira origem e missão.
Por serem “fechados” em suas falas pouco se aprendeu sobre este grupo de encantados até hoje. Mas podemos afirmar que trata-se de uma “falange” poderosíssima, com altos conhecimentos místicos, astronômicos e litúrgicos. São capazes de promover fenômenos indescritíveis se invocados da forma corretas com os “apetrechos” certos.
Durante anos as Casas de Candomblé de Angola (Endembo, Mushi-Congo, Tumba Junçara) e Xambá, costumavam após o término do ‘Shirê” Ti Inkisse (roda de santo de Angola), fazer um toque de louvação à Boiadeiro, toque este que rompia a madrugada com o dia clareando e muita Jenipapina. Isto sem se falar nas cantigas conhecidas por “sutaque” que vêm do fundo da alma e são feitas de improviso.
Jurema
Considerada a mais popular e poderosa ritualística de Encantaria brasileira o ritual da Jurema (hoje bastante miscigenada devido aos fatores já explicados), é no nordeste, tão popular quanto o frevo e o samba no Rio de Janeiro.
Jurema (Acacia Nigra), é a árvore sagrada dos indígenas brasileiros há milênios. Nela concentram-se todos os valores fitoterápicos e místicos de um ritual que de uma certa forma, influenciou todos os demais no Brasil inteiro. Dezenas de encantados e mestres espirituais do ritual da Jurema povoam as “Casas de Nação” (candomblés) os quais não podem negar-lhes “espaço”. A Jurema por ser um ritual totalmente brasileiro é o único que se equipara aos seus congêneres africanos por ter sua própria Raiz e Origem. A raiz, é a árvore com suas folhas, casca a raízes – A origem é Monan, deus supremo dos Tupis,Caetés, Tabajaras, Potiguás, Tapuias, Pataxós e outras nações indígenas. Seus protetores eram (até a chegada do branco), Tupan, Yara, Caapora, Curupira, Boiúna, Mo Boiátatá, Jaguá, Rudá, Carcará e outros mais. Eram de tribos diferentes, mas cultuavam os mesmos deuses aos pés da mesma árvore: JUREMA.
Com a miscigenação entre os indígenas e o branco e entre indígenas e o negro miscigenaram-se também, suas culturas, seus arquétipos, seus usos e costumes.
Com o aparecimento “caboclo” (mestiço), apareceram também os encantados resultados desta mestiçagem. O ritual da Jurema, vulgarmente chamado de “Catimbó”, devido ao uso de cachimbos durante a prática, é cercado de preparos e cuidados especiais respeitanto-se prioritariamente a ancestralidade de cada um ou da própria raiz em torno da qual realiza-se a prática. Esta por sua vez, obedece à vínculos locatícios chamados de “cidades da jurema”, cada uma com seu nome. O ritual tanto pode ser feito sobre uma mesa com pode ser feito no chão. As forma são distintas, com objetivos as vezes diferentes.
Os ingredientes e apetrechos usados nos rituais de Jurema são os seguintes:
Cachimbos confeccionados à mão de diferentes troncos de árvores Fumos feitos com folhas de tabaco misturadas com folhas de diferentes árvores (dependendo da intenção do “trabalho”) Maracá (chocalho indígena) para invocar os mestres encantados Pequenos troncos de Jurema sobre os quais acende-se velas (dependendo do número de “Cidades” as quais serão invocadas – (preferencialmente 4 cidades) Sineta de metal nobre para invocação dos Mestres - (no passado era com caxixi) 2 ou mais copos altos e largos com água Toalha vermelha ou branca se for na mesa e vermelha se for no chão.
ALHANDRA, a Cidade Sagrada
A cidade sagrada da Jurema é ALHANDRA na Paraíba, entre João Pessoa e Recife. Este é o MARCO ZERO da Jurema no Brasil e também, centro de romarias de milhares de pessoas anualmente. Dentro de Alhandra estão outras três outras cidades sagradas conhecidas por Acais, Tapuiú e Estiva. Lá também estão os túmulos de vários mestres famosos no Brasil inteiro. Maria do Acais, Damiana Guimarães e Zezinho do Acais, fizeram a fama desta cidade que contém a Jurema de Cangaruçu por todos respeitada neste Brasil. Nenhum mestre da Jurema deve o pode ser tratado como se fosse um Egun ou Exu!
Mestres famosos da Jurema:
Mestra Maria do Acaís (Maria Gonçalves de Barros)
Mestre José Pilintra (José de Aguiar dos Anjos)
Mestre Major do Dia
Mestre Cabeleira (Dom José do Vale)
Mestre Zezinho do Acais
Mestre Cangaruçu
Princesa de Leusa
Mestra Maria Elisiara
Mestra Joana Pé de Chita (Joana Malhada)
Mestra Damiana Guimarães
Mestre Emanoel Maior do Pé da Serra (Emanoel Cavalcante de Albuquerque)
Mestre Manoel Cadete
Mestre Marechal Campo Alegre
Mestre Arcoverde
Mestre Tertuliano
Mestre Malunguinho
Mestra Piorra
Mestre Carlos Velho (José Carlos Gonçalves de Barros)
Mestra Maria Solomona
Mestra Judith do Barracão
Mestra Maria Padilha
Mestre Antônio Macieira
Rei Eron
Mestre Cesário
Mestra Jardecilia ou Zefa de Tiíno
Mestre Tandá
Mestra Izabel
Mestre Zé Quati
Mestre Casteliano Gonçalves
Mestra Fortunata do Pina (Baiana do Pina)
Mestre Nêgo do Pão
Mestra Maria Magra
Mestre Candinho
Cidade do Segredo da Jurema
Tambaba
7 Cidades Sagradas
Jurema, Vajucá, Junça, Angico, Aroeira, Manacá e Catucá.
Toadas (cantigas) de alguns Mestres do Catimbó ou Jurema:
Mestre Malunguinho:
"Malunguinho está nas matas, ele está é abrindo mês a um Rei. Me abra este mesa Malunguinho e tire Espec do caminho. Espec aqui, espec acolá para os inimigos não passar. Espec aqui Espec acolá para os inimigos eu derrotar." – (bis)
Mestre Major do Dia:
"Ó meu Major, ó meu Major, meu Major de Cavalaria. És meu major, és meu Major, és Meu Major do Dia." – (bis)
Mestre Zezinho do Acaes:
"De longe venho saindo, de longe venho chegando, tocando a minha viola e as meninas apreciando. Cantando eu venho folgando eu estou. Cantando eu venho da minha cidade. Minha barquinha nova nela eu venho, feita de aroeira que é pau marinho. Quem vem dentro dela é o meu Bom Jesus, de braços abertos, cravado na Cruz. – Aurora é Canindé, Aurora é Canindé."
Mestre Cabeleira - (Zé do Vale)
"Eu venho de porta em porta caindo de déu em deu. E casa que eu conheço é a sombra do meu chapéu. Fecha a porta gente que o Cabeleira e vem. Pegando rapaz, menina também. Pegando rapaz, menina também. Minha mãe sempre dizia, “meu filho tome abenção, meu filho nunca mate, menino pagão” – Subi serra de fogo com alpercata de algodão, se a alpercata pega fogo, o boto desce de pé no chão. E o meu cavalo, é maresia...ele vadeia lá na praia do lençol." – (bis)
Mestra Maria de Elisiara:
"Que campos tão lindos, vejo o meu gado todo espalhado, lá vem Maria de Elisiara, que vem ajuntando o gado. Lá vem Maria de Elisiara, rainha de Salomão, que já foi Mestra e hoje é discípula do nosso querido Rei João. Que Campos lindo e Varandas" – (bis)
Mestra Joana Pé de Chita: - (Joana Malhada)
"Eu sou Joana da cidade de Santa Rita, tenho um Cachimbo respeitado, eu sou Joana Pé de Chita" – (bis)
Mestre Emanuel Maior do Pé da Serra:
"Campos Verdes, meus Campos Verdes, tua luz estou avistando, da cidade de Campos Verdes, Emanuel Maior já vem chegando. Campos Verdes, meus Campos Verdes vejo o meu gado todo espalhado, da cidade de Campos Verdes Emanuel Maior vem ajuntando o gado. É fogo na “Gaita” e toque o “Maracá”, bote água na cuia pra Emanuel Maior tomar."
Mestre Rei dos Ciganos – (Barô Romanó)
"Eu estava sentado na pedra fria, Rei dos Ciganos mandou me chamar. Rei dos Ciganos e a Cabocla Índia, Índia Africana no Jurema. Quem traz a flecha é a Cabocla Índia, Rei dos Ciganos mandou me entregar. Quem traz a flecha é a cabocla Índia, eia arma a flecha que eu vou flechar. Quem traz a flecha é a Cabocla Índia, eia arma a flecha vamos flechar."
Mestre Tertuliano:
"É de Ipanema, é de Ipanema – Tertuliano trabalhando na Jurema" – (bis)
Mestre Marechal Campo Alegre:
"Eu dei quatro volta no mundo e o sino da capela gemeu. Sou eu Marechal Campo Alegre, e o Dono do Mundo sou eu." – (bis)
Mestra Judith do Barracão:
"Judith ó minha Judith, Judith lá do Barracão e os campos de Judith, são campos, são campos. E atira, Judith atira, pedaço "preaca" de mulher. E os campos de Judith são campos, são campos. E atira, Judith atira cabocla negra de Ioruba, e os campos de Judith são campos, são campos. E o bueiro de Judith, é bueiro, é bueiro. E o molambo de Judith, é molambo, é molambo. E o baralho de Judith, é baralho, é baralho."
Mestre Navisala:
"Eu venho de longe, sem conhecer ninguém. Venho colher as rosas que a roseira tem. Mas eu sou boiadeiro, não nego o meu natural. Quem quiser falar comigo, bem vindo seja no Juremal."
Mestra Maria Padilha:
"Que grito foi aquele que o mundo estremeceu suas varandas. Foi de Maria Padilha, e a dona do mundo é ela ó minha varanda."
Mestre Légua Bogi-Buá Trindade:
"Légua, eu sou Légua, Légua Bogi Buá. Mas eu plantei a Légua no tronco do Jurema. – (bis)"
Mestre Zé Pilintra - (José Aguiar dos Anjos) – Ritual de Catimbó raiz Alhandra, Junça, Vajucá.
"Mandei chamar Zé Pilintra, nego do pé derramado e quem mexer com Zé Pilintra, ou fica doido ou vem danado. – (bis) – Seu doutor, seu doutor, Zé Pilintra chegou. Se você não queria, para que lhe chamou. Dilim-Dilim, bravo senhor, dilim-dilá, bravo senhor, Zé Pilintra chegou, bravo senhor para trabalhar. Bravo Senhor."
"Lá na Vila do Cabo, ele é primeiro sem segundo. Só na boca de quem não presta, o Zé Pilintra é vagabundo."
"Zé Pilintra no Reino Eu sou um Rei Real. Zé Pilintra no reino e eu vim trabalhar. Trunfei, Trunfei, Trunfei, Trunfá. Zé Pilintra no Reino, estou no meu Jurema. Trunfariá!"
"Chegou José Pilintra, sou o assombro do mundo inteiro. Sou faísca de "fogo-elétrico", sou trovão do mês de janeiro."
"Na passagem de um rio, Maria me deu a mão. E o prometido é devido, é chegada a ocasião".
"Eu matei meu pai e minha mãe. Jurei padrinho e Jurei Madrinha. Matei um cego lá na igreja e um aleijado lá na linha. Seu doutor, seu doutor bravo senhor, Zé Pilintra sou eu, bravo senhor. Se você não queria, Bravo senhor para que lhe chamou, bravo senhor".
Catimbó – significado, magia, mistério, ocultismo
Dizem os mais entendidos que o catimbó não possui em seus cultos uma hierarquia, porém, tenho consciência de que ela existe e é muito precisa para os trabalhos espirituais da Jurema. Exemplo: um mestre não passa a frente do outro e, nas mesas, tem um dirigente que é um dos grandes mestres, escolhido pela vidência na mesa.
Como nos terreiros de umbanda tem velhos, caboclos, espíritos de cura, boiadeiros que chefiam, casam e batizam seus seguidores, no catimbó é a mesma coisa: temos uma família, uma cidade e um Estado.
O catimbó veio da era medieval, onde bruxos e bruxas, grandes mágicos e até mulatos, carregadores de sinhàzinhas, mascates, caboclos matreiros, negros fugitivos, enfim, todas as classes, principalmente os mais carentes, que tinham que fugir para exercer sua fé, que era proibido na época. Entre mamelucos e cafuzos, negros e índios, europeus de todos os lados, fugiam para a mata, para fazer o Catimbó.
Cat-fogo – timbó-mato; aí está formada a palavra Catimbó, fogo na mata.
Atravessando todo o Brasil, o Catimbó vem se propagando de Norte a Sul. Ele se alinha com a encantaria e entre os senhores mestres da Jurema. É um culto que vem ganhando espaço em todos os segmentos espirituais. Os nossos irmãos do Norte e Nordeste vivem na esperança de poder voltar, um dia, às suas raízes e tradições.
A inclusão de santos católicos no Catimbó foi semelhante ao que aconteceu com os orixás no candomblé, com a única diferença que os Mestres adoram esses santos.
Com a chegada dos primeiros colonos portugueses ao Brasil, houve a mistura com os índios e negros africanos originando, a partir daí, a miscigenação. Aconteceu, também, a aproximação com a magia negra, muito praticada na época.
O Catimbó sofreu influências desde o Amazonas até os Estados da Região Nordeste, misturando toré, pajelança, linha dos ciganos, sensitivos, adivinhos, médicos curadores, também chamados médicos do espaço. Tudo isto é encantaria.
Sendo secular o Catimbó vem se misturando com a Umbanda e trazendo diversas ramificações. Hoje, neste campo, o Mestre Zé Pilintra, com toda sua formação, é introduzido nos terreiros de vários segmentos.
Existem pontos comuns com a Umbanda, porque todo Mestre, que desce para trabalhar, vem falando ou louvando Deus e Jesus Cristo – “E quem pode mais que Deus?” – é sua bandeira de fé.
A cultura do Catimbó, apesar de mítica e secular, já tem suas raízes firmadas nos dias de hoje. O Mestre, o sacerdote, o mentor espiritual é, ao mesmo tempo, rezador, curador, conselheiro e até mesmo Pai ou Mãe na orientação dos seus seguidores. Realizam batizados, casamentos, rituais fúnebres, missas e ladainhas.
Zé Pilintra é considerado o príncipe da Jurema e hoje muitos terreiros trabalham com outras falanges: Zé dos Anjos, Zé do Ponto, Zé Arruda, Zé da Canoa, Zé da Escada, Zé da Rua da Guia, Zé Pereira, Zé do Vale, Zé Enganador, Zé de Aruanda, Zé da Jurema.
Essas chefias vão se ampliando e temos encontrado, enfim, outros falangeiros que estão cheios de ginga e malandragem e trazem para os Estados do Leste e Sul do Brasil, Zé da Lapa, Zé da Mangueira, Zé de Santa Tereza, etc.
É bom que se diga que Zé Pilintra nunca foi ladrão, bandido ou arruaceiro, etc. Ele é e foi um bom malandro. Homem viril, jogador de cartas, que aparecia em sua época e o seu carteado corria mundo.
Existe uma grande falange de Zés no Recife, Paraíba, Alagoas, Ceará, Amazonas, nas taperas, se banhando nos igarapés e rios. São idolatrados tanto por meninas, moças e até damas da sociedade.
Qualquer magia praticada para o bem pode ser usada para grandes finalidades. Objetivamente, o catimbó é a evolução dos guias e dos mestres através do bem e da cura. Se o mal é feito, isso pode ocorrer pela desinformação do médium ou pela necessidade da justiça a quem pede.
O catimbó tem uma base religiosa vinda de várias regiões, é uma prática magística, ritualística, onde entram santos católicos, água benta, outros objetos litúrgicos, trabalhando com incorporações vindas através da necessidade do consulente, principalmente na linha de cura. Problemas materiais e amorosos são as principais finalidades e a sua parte litúrgica têm muitas vezes a ver com os santos católicos.
Para se fazer o mal às pessoas, não é preciso estar no Catimbó. Aliás, o mal não precisa de religião para ser feito.
Os mestres trabalham livremente, porém nunca deixa de ter no seu grupo ou na sua cidade a organização da mesa. Aqueles que tomam parte na mesa da Jurema são os que formam a cúpula, a chefia do trabalho espiritual. Com incorporações, vidências, etc. Exemplificando: se a mesa do Catimbó for dirigida por Zé Pilintra, ele é o primeiro a descer e é o último a subir.
O Catimbó é uma religião do povo, não existe Catimbó sem terços, rezas, água-benta, santos católicos, fumaça do cachimbo, vinho da Jurema ou cânticos fazendo rimas e, tocando seu maracá, os mestres são entidades muito alegres, naturais e espontâneas.
Não existem mestres do bem ou do mal, porém, eles podem trabalhar na direita ou na esquerda. Já presenciei, há alguns anos, um Catimbó de mesa de chão, onde o Mestre Zé Pilintra abria a reunião de cura e limpeza de egum.
Fazia a chamada dos mensageiros dos mestres e, depois do trabalho e das mesinhas, onde os consulentes tinham o privilégio de saírem do toque com uma aparência de grande felicidade e a esperança de dias melhores. Seu Zé transmitia uma irradiação cheia de compreensão e pedia para que os mestres na terra, solicitassem aos seus médiuns que abrissem seus corações e que fizessem com que a fé de cada médium, incorporado, fosse imbatível.
Conclusão: daquela força formou-se uma egrégora e daí abriu-se uma luz.
Este fato aconteceu na casa de um babalorixá já falecido (Professor José Ribeiro), em Jacarepaguá, onde o Catimbó era considerado o melhor da cidade do Rio de Janeiro. Predominava, ali, a necessidade do povo. Seu Zé descia, chamava Maria do Acae e, em seguida, o Mestre Carlos.
Os consulentes ficavam todos esperando, sentados nos enormes bancos do salão, uma esteira em forma de cruz, com médiuns, todos de branco, fazendo a corrente. De um lado, Maria do Acae e do outro lado, Mestre Carlos, já bem velhinho e que era o mediador, para tirar os problemas dos consulentes enquanto, na ponta da mesa (esteira de chão), havia outro médium trabalhando como mensageiro de Inhançã, que cremava na panela todos os problemas dos consulentes, prèviamente escritos pelos próprios.
Já de madrugada, não havia mais tempo para toque: era tarde, a madrugada já começava trazendo o amanhecer. No dia seguinte, todos tinham seus empregos. Isto era uma sessão de Catimbó e seu Zé Pilintra subia, cantando e recitando loas e versos:
- Salve seu Zé Pilintra, Mestre Carlos e Maria do Acae!
Já presenciei em outra casa, em Jaboatão-Recife (Pe), onde os guias desciam e não dançavam: primeiro trabalhavam e faziam seus Catimbós e depois, então, iniciava o toque. Era de enlouquecer a demora e os mestres diziam:
- Primeira a devoção, vamos trabalhar, desmanchar macumba, feitiço, catimbó e azar.
Depois de todos os consulentes atendidos, os maracás começavam a tocar e, aí então, vinha a grande dança do Catimbó, na magnífica e contagiante pisada dos senhores mestres.
É preciso ter cuidado para que as sessões não pareçam uma festa pagã: Jurema tem fundamento e a sorte é Deus quem dá. Vamos respeitar e louvar o Mestre na sua cidade real – afirmava Mestre Pilão.
Existem muitos tipos de mestres e variadas incorporações na linha da Jurema. Todos são responsáveis por suas atividades.
A lei da mata é a mesma para todos. Em cada casa é plantado um pé de Jurema e aí, nasce uma cidade encantada, que recebe o nome de um mestre, escolhido pelos donos da casa.
Esta é uma característica de independência de cada mestre. Sua força e seriedade fazem com que estes mesmos mestres sejam temidos e respeitados não existindo, aí, nenhum critério de comparação com o pantheon africano.
Dentro do catimbó trabalha-se com muita luz e sendo a Jurema uma linha indígena, temos exemplos de alguns grandes mestres, como o famosíssimo Pai Joaquim, um velho da Índia e que vem na chefia das sessões de Umbanda ou linhas cruzadas, como a linha da Jurema, fazendo lavagem de cabeça.
Rei Heron, que é doutrinador e curador católico, apaziguador, é um grande chefe de mesa;
Mestre Tupã, que é um espírito de grande força astral, chefe de um grande reino e faz parte das cidades santas, é conciliador.
Mestre Caboclo Urubatan, é morador das cidades encantadas dos rios verdes, é guia para os perdidos e fechador de corpos. Não faz feitiços, nem magias, mandingas ou catimbó, só trabalha para doutrinar falangeiros e seguidores.
Mestra Laurinda, parteira, curandeira e rezadeira.
Mestre Carlos, o Rei do Catimbó, que passou três dias e três noites, dormindo no tronco do juremá e, quando se levantou, estava pronto para trabalhar.
Mestra Maria Luziária, vaidosa, conselheira, defensora das mulheres, apaziguadora dos homens, por vezes mandingueira, brejeira e casamenteira. Dizem que é uma entidade muito bonita.
Conta a história que Maria Luziária foi a primeira esposa de Zé Pilintra e só trabalha para o amor e para fazer o bem. Compositora, suas músicas são suaves e apresentam um enredo de muito bom gosto.
Mestra Iracema, rainha da cidade
encantada de Panema, vem beirando o mar,
se preocupa muito com crianças e pessoas
idosas e é uma cabocla de pena.
PONTO CANTADO
Enquanto Eu viver sobre a Terra,
Enquanto Eu viver sobre o mar.
Salve! A Cabocla Iracema.
Salve! A Sereia do Mar.
Eh! Eh! Eh! Eh!
ISSO É LINDO DEMAIS!
Mané Maior é outra entidade de ação, como príncipe canindé, caboclinho, corredor da mata virgem, aquele que traz as folhas, juntamente com os tapuias e canindés, para fazer a linha da fumaça e do mel de abelhas. Quando baixa no terreiro, louva sempre Jesus Cristo, Padrinho Cícero Romão, São Severino do Ramo, Santa Teresa, Nossa Senhora da Lapa, a Virgem da Conceição e outros.
Os catimbozeiros não perdem causas e os senhores mestres são impulsivos, otimistas e bastante generosos. O círculo que fazem no astral sobre o seu consulente é que tem valor e nas suas invocações estão sempre procurando um canal de luz, onde possam entrar e resolver os problemas dos consulentes.
POSTADO POR BELLA ZINGARA EM 31 AGOSTO 2010
Culto à Jurema & Sua Importância
O nome "Jurema" vem do tupi-guarani, onde Ju significa "espinho" e Remá, "cheiro ruim".
A jurema é uma planta da família da leguminosas. Os frutos das plantas leguminosas são vagens. Existem várias espécies de jurema, como por exemplo: Jureminha, Jurema Branca, Jurema Preta, Jurema da Pedra e Jurema Mirim.
Esta planta tem muita importância no culto espiritual dos caboclos e nas regiões Norte e Nordeste doBrasil, tanto que dá nome a um culto chamado de "Culto à Jurema". Esse culto deve-se ao fato de que os nossos índios enterravam seus mortos junto a raiz da jurema. Daí passavam a cultuar esses mortos para que eles evoluíssem espiritualmente e habitassem o tronco da jurema ajudando a todos da tribo em suas necessidades.
No Nordeste, este culto recebeu outros nomes como: Toré, Curicurí Praiá e Juremado.
Mas, o culto de caboclo não ficou restrito apenas ao índio brasileiro. Os negros de origem banto incorporaram os caboclos aos seus cultos e passaram a chamar este culto de "Candomblé de Caboclo" ou "Samba de Caboclo".
Nos Juremados, o mestre utiliza-se de um maracá, espécie de chocalho e de um cachimbo feito às vezes de pinhão-roxo para soprar fumaça para à esquerda ou para a direita.
A jurema é utilizada para tomar banho de descarga com suas folhas. Serve como defumador para cura de dor de dente, doenças sexualmente transmissíveis, insônia, nervos, dores de cabeça. Faz ainda: figas, patuás, rosários. Utiliza-se para fazer rezas com suas folhas contra mau-olhado e olho-grande. Serve ainda para fazer um dos maiores fundamentos do Culto à Jurema, que é uma bebida à base de infusão das folhas da jurema, com casca do tronco e da raiz misturado com mel de abelha, garapa de cana-de-açúcar e cachaça. Essa é a bebida preferida dos Encantados que baixam no Toré e no Culto à Jurema.
CATIMBÓ JUREMA - RITUAL PROIBIDO HÁ 40 ANOS
CHAMADA DOS MESTRES
(saída do Tombo de Jurema).
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