quarta-feira, 4 de maio de 2011

ÌYÁ MI OSORONGÀ

Ìyá Mi Osorongà
As Senhoras dos Pássaros da Noite

Quando se pronuncia o nome de Yiá Mi Osorongá, quem estiver sentado deve-se levantar, quem estiver de pé fará uma reverência, pois se trata de temível Orixá, a quem se deve apreço e acatamento.
( Jorge Amado )

Origem e história

Iyá Mi Osorongá é a síntese do poder feminino, claramente manifesto na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o mundo. Quando os iorubás dizem "nossas mães queridas" para se referirem às Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.

Donas de um axé tão poderoso quanto o de qualquer orixá, as Iyá Mi tiveram seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de março e maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo imediatamente para um culto relacionado à fertilidade.

Poder procriador, tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e sua fama de grandes feiticeiras as associou à escuridão da noite; por isso também são chamadas de Eleyé e as corujas são seus maiores símbolos.

A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à explicação e ao controle humano. Toda mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyá Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos, sempre assustou os homens e as cantigas entoadas durante o festival Gèlèdè fazem alusão a esse terrível poder -- que não pertence apenas às Iyá Mi, mas a qualquer mulher.

Mãe destruidora, hoje te glorifico:

O velho pássaro não se aqueceu no fogo.

O velho pássaro doente não se aqueceu ao sol.

Algo secreto foi escondido na casa da Mãe ...

Honras à minha Mãe!

Mãe cuja vagina atemoriza a todos.

Mãe cujos pêlos púbicos se enroscam em nós.

Mãe que arma uma cilada, arma uma cilada.

Mãe que tem potes de comida em casa.

As mães são compreendidas como a origem da humanidade e seu grande poder reside na decisão que tomar sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver. A mulher, especialmente nas sociedades antigas, tinha inúmeros recursos para interromper uma gravidez. E, até os primeiros anos de vida, uma criança depende totalmente de sua mãe; se faltarem seus cuidados a criança não vinga. Em síntese, todo ser humano deve a vida a uma mulher. Se todas as mulheres juntas decidisses não mais engravidar, a humanidade estaria fadada a desaparecer. Esse é o poder de Iyá Mi: mostrar que todas as mulheres juntas decidem sobre o destino dos homens.

Mãe todo-poderosa, mãe do pássaro da noite.

Grande mãe com quem não ousamos coabitar

Grande mãe cujo corpo não ousamos olhar

Mãe de belezas secretas

Mãe que esvazia a taça

Que fala grosso como homem,

Grande, muito grande, no topo da árvore iroko,

Mãe que sobe alto e olha para a terra

Mãe que mata o marido mas dele tem pena.

Iyá Mi é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo que é redondo remete ao ventre e, por conseqüência, as Iyá Mi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu.

As denominações de Iyá Mi expressam suas características terríveis e mais perigosas e por essa razão seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas quando se disser um de seus nomes, todos devem fazer reverencias especiais para aplacar a ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte.

As feiticeiras mais temidas entre os iorubás e nos candomblés do Brasil são as Àjé e, para referir-se à elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do Pássaro. O aspecto mais aterrador das Iyá Mi e o seu principal nome , com o qual tornou-se conhecida nos terreiros, é Oxorongá, uma bruxa terrível que se transforma no pássaro de mesmo nome e rompe a escuridão da noite com seu grito assustador.

As Yiá Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas em seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.

O lado bom de Iyá Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxóssi Dizem que o deus caçador encontrou mel aos pés da jaqueira e em torno dessa árvore formou-se a cidade de Kêtu.

Os assentamentos de Iyá Mi ficam junto a grandes árvores como a jaqueira e geralmente são enterrados, mostrando a sua relação com os ancestrais, sendo também uma nítida representação do ventre. As Iyá Mi, juntamente com Exú e os ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que , entre outras coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé, denotando que as grandes mães é que detém os segredos do culto, pois um dia, quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá Mi, que são, na verdade, as mulheres ancestrais.

[ Candomblé - A panela do segredo - Pai Cido de Òsun Eyin ]

Mais sobre nossa Mãe Ancestral

Os Ovos de Iyá Mi Osoronga

O ovo é o principal e maior símbolo da fertilidade, utilizado amplamente nos rituais de purificação, iniciação, Borí e èbós de propiciação e defesa.

Existem vários contos de Ifá relatando a grande importância do Ovo. Uma delas conta que, Òlódúnmàré (Deus) estava para dar origem ao universo, tinha num pote de barro “4 Ovos”, com o 1º ovo deu origem primeiramente a Òòrìsànlà-Òbátálà, que surgiu na explosão da luz, sem forma, quando literalmente Deus disse haja luz, Òòrìsànlà surgiu no mundo.

Com o 2º deu origem a Ògún, à forma. Já com o 3º, deu origem à Òbálúwàiyé e à estrutura. O 4º ovo, acidentalmente, caiu de sua mão estourando no chão e revelando sua riqueza, originando assim a primeira mulher universal, chamada Ìyàmi-òsòróngà, assim, expôs o segredo de sua riqueza para o grande pai, mostrou seu poder de fertilidade e sobrenatural, expondo-os a olho nu diante do Deus Supremo, nascendo assim, a fonte mantenedora da vida.

O Ovo possui três diferente cores, associadas às cores principais e primordiais do universo: o ovo de casca azul, que representa a cor preta e é relacionado ao “Aba”, a escuridão, as trevas das profundezas da terra e mares. O ovo de casca branca tem relação com o “Iwà”, a explosão da luz. Finalmente o ovo de casca vermelha é relacionado ao “Àsé”, ao fogo mantenedor da fertilidade, ele é totalmente relacionado ao poder sobrenatural. Seu conteúdo possui diversas características, o qual na maioria das vezes é branco, frágil e oval.

Dele nasceu um novo ser, associado a idéia de que o universo teria surgido primordialmente dele próprio, na forma de um protótipo do mundo. Como um filho de asas negras = ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ que foi cortejado pelo vento = ÒÒRÌSÀNLÀ-ÒBÁTÁLÀ.

O ovo é uma célula reprodutora feminina dos animais chamada macro-gameta, ou seja, rudimento de um novo ser organizado, primeiro produto do encontro dos dois sexos, pelos quais desenvolve a possibilidade de existência do fato. Germe, origem, princípio. Uma imagem viva do grande mundo (O Universo), em oposição ao microcosmo (o homem). O Ovo é resultante da composição e fecundação de óvulos, possuindo 4 partes; a 1º é a casca que representa o útero (invólucro mítico), a 2º é membrana interna que representa a bolsa, placenta uterina (parede defensora), a 3º parte é a clara, matéria viscosa e esbranquiçada, do grupo das proteínas que representa o útero, e a 4º parte é a gema amarela, parte intima, central e globular suscetível de reproduzir, a qual representa o feto, um novo ser engendrado preparado para nascer e autuar no que for necessário.

O mito do ovo está presente em todas as culturas antigas, entre elas a Yorubà, Polonesa, Fenícia, Chinesa, Eslava, Polinésia, Finlandesa, Hindu, Germânica, Hebraica entre outras.

A força germinal contida no ovo, esta associada à energia vital com grande desenvolvimento através de Èsú, motivo pelo qual, tanto o ovo como Èsú, desempenha uma função importantíssima no culto Yorubà, principalmente no culto de ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ, ÒSÚN, IYEWÁ, OYÀ, ÒMÒLÚ, etc...

Confirmando um total culto à fertilidade, magias curativas, purificando e quebrando as forças maléficas, a gema, sangue germinal unida à clara para obter nutrientes e hidratação necessária, são transformados em um único ser vivo individual no interior do ovo, plagiando o mesmo processo do interior do útero, que indiscutivelmente é o mesmo processo que acontece nos rituais, numa mesma idéia de união do casal universal; Òòrìsànlà-Òbátálà e Iyémowo.

Porém, no contexto do ovo, a junção acontece mais rapidamente não existindo nenhum tipo de vinculo biológico entre a mãe e o filho, ou seja, não existe cordão umbilical. Isto explica o poder contido no ovo por si só, o qual foi um elemento criado diretamente pelo todo poderoso Òlódúnmàré (Deus). Ele colocou primeiramente o Ovo no mundo, logo depois surgindo dele a vida, ou seja, a ave. Por isso, o ovo é um elemento originado do criador, o símbolo mais importante e representante do poder de ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ, a mãe universal, que necessita intrinsecamente do poder masculino de ÒÒRÌSÀNLÀ-ÒBÁTÁLÀ, o qual faz do ovo um elemento de muito Àsé (poder realizador).


O ovo é utilizado amplamente nos rituais sob várias formas. Depois de encantados por palavras mágicas; na finalidade de neutralizar o mal, purificar a cabeça de um Iyawó, antecedendo sua iniciação, assim como, purificar a cabeça a qual receberá sacrifícios no Orí, antecedendo o borí. O ovo também é capaz de purificar o caminho de pessoas que possuem obstáculos em suas vida; tirar problemas e confusões; purificar uma pessoa com maus espíritos; tirar doença de mulheres e bebês; tirar a Ikú do caminho de alguém.

O ovo e também utilizado nos rituais de propiciação; na finalidade de obter fertilidade, atrair dinheiro, produtividade nós negócios e apaziguamento de certa situação quando utilizado em èbós de seu a ÌYÀMI-ÒSÒRÓNGÀ. O ovo quando cozido é utilizado inteiro sobre as oferendas das divindades, tendo somente a função de neutralizar doenças negativas. Já quando cozido e esfarinhado misturado ao “EKURU” também esfarinhado, é utilizado como uma espécie de comida que ao espalhada sobre o solo da Casa de Òrìsá, tem a finalidade de agradar os “AYES” (espíritos que residem na terra), espantando assim o mal ou neutralizando as energias negativas, quando invocado neste ritual; os AYES estai sob o domínio de Ìyàmi-òsòróngà, Èsú e Òbálúwàiyé, propiciando abundância e prosperidade para a Casa.

O ovo cru com seu frescor, quando utilizado inteiro em oferenda tem a função de tranqüilizar e refrescar. Por isso, é comum vermos muitos ovos crus depositados no chão aos pés de certos Ajùbòs (assentamentos de Òrìsas), eles têm a finalidade de atrair abundância e proteção. Isso tem o intuito de fazer com que todas as divindades compreendam perfeitamente que o èbò é uma súplica de fertilidade, germinação de filhos. Dependendo da atuação da Divindade, ela não só atuará no tocante da fertilidade no útero, mais também propiciará dinheiro, sorte, saúde e desenvolvimento na vida, por ser o ovo um agente naturalmente fértil. Quando os ovos crus são quebrados e passados diretamente na cabeça, eles têm a função poderosa de purificar e livrar até 80% qualquer tipo de feitiço ou qualquer outro tipo de negatividade que esteja sobre o Orí da pessoa.

Quando em um èbò, ovos crus são atirados no chão ou quebrados em cima do corpo de uma pessoa em um sacrifício de purificação, vulgarmente chamado de descarrego, tem por finalidade desobstruir os caminhos, tirando as dificuldades da vida ou qualquer espírito de força contrária que esteja acoplado no corpo (obsessores). Ao ser quebrado ele revela sua riqueza e seu poder tanto sobrenatural como concreto, pois no exato momento que é quebrado, o ovo não terá mais a possibilidade de germinar, ou seja, nascer algo dele, portanto em um tipo de substituição ou troca, ele matará o problema, possibilitando o fim de algo ou de uma situação negativa. Por este motivo, o ovo cru deve ser quebrado principalmente no Òrí da pessoa, numa espécie de preparação da cabeça, que logo depois irá levar aos ritos sacrificatórios:

Começando pelo 1º, o sangue negro, Agbo-tutu (sumo de ervas fresca), em seguida o sangue vermelho advindo de aves ou quadrúpedes e finalmente o sangue branco do igbin (caracol) que é espremido por cima de tudo, com isso é feita a purificação, possibilitando a existência da força sobrenatural, acalmando e fertilizando a cabeça, que neste momento recebe o puro asé , com a união dos três sangues primordiais.

Quando um ovo é quebrado em qualquer ritual, o nome Ìyàmi-òsòróngà é respeitosamente citado e reverenciado, porque qualquer que seja o ovo, ele lhe pertence, como relata vários Itãn-Ifá.

Quebrar um ovo na rua (atirando no chão) pela manha por três ou sete dias consecutivos, chamando Èlegbara e Ìyàmi-òsòróngà e espargindo dendê por cima, consiste em um simples e poderoso ritual do culto de Ìyàmi-òsòróngà, o qual tem a finalidade de afastar qualquer tipo de dificuldade ou prejuízo, acalmando qualquer energia avessa do caminho de uma pessoa.

Como relata ifá, o ”Ovo de pato” é o símbolo da vida e umas das proibições de Ikú (morte). A utilização do ovo de pata cru, é essencial principalmente em certos rituais, com finalidade de quebrar a força da morte, de doenças e perdas, com isso a pessoa sairá vitoriosa obtendo longevidade, saúde e ganhos. Quando cozido e esfarinhado é utilizado como agente purificador passando pelo corpo de uma pessoa em èbós de Egungun ou Onilé (para dentro da terra), também com casca e tudo é transformado a pó (seco ao sol), utilizado no igbà-Orì e assentamentos dos Òrìsás de relação com ikú. Ex: Èsú, Ògún, Òbálúwàiyé, Iyewá, Òmòlú, Erinlè, Ibeji, Sàngó, Oyà, Iyémowo, Òòrìsànlà, Ajaguémó, Iroko, Yòbá, Onilé, Egungun e Gèlèdè.

Como relata Ifá, o único Òrìsá que não possui relação com ikú é o òrìsá Òsún. Por ela não aceitar qualquer relação com a morte, também não aceita que os animais em seu culto sejam sacrificados (mortos) em cima de seu Okuta. Por esse motivo não admiti a utilização de qualquer utensílio de cor escura, marfim, osso, buraco, agressividade e doença, os quais possuem totais relações com a morte. Isto também explica o porquê Òsún não aceita que suas filhas morram facilmente, assim Òsún os protege dando longa-vida, em uma ação de prolongar ao máximo o contato com a morte. Todos esses aspectos de Òsún estão relatados nos Itãns do Odu Ósé.


Classificação dos Ovos:

Ovo de galinha cru – purifica e tranqüiliza.
Ovo de galinha cozido – tirar doenças.
Ovo de galinha esfarinhado – neutraliza a negatividade do ambiente, atrai prosperidade e abundância.

Ovo de pata cru – enfraquece a força da morte, doenças graves e perdas.

Ovo de codorna – neutraliza feitiços.

Ovo de Galinha D’angola – propicia dinheiro, sorte, prosperidade riqueza e sucesso nos negócios.

Ovo de pombo – propicia tranqüilidade e fertilidade.


Origem e história

Iyá Mi Osorongá (Ìyá Mi Osorongà) é a síntese do poder feminino, claramente manifesto na possibilidade de gerar filhos e, numa noção mais ampla, de povoar o mundo. Quando os Yorubás dizem "nossas mães queridas" para se referirem às Iyá Mi, tentam, na verdade, apaziguar os poderes terríveis dessa entidade.

Donas de um asé tão poderoso quanto o de qualquer outro orixá, as Iyá Mi tiveram seu culto difundido por sociedades secretas de mulheres e são as grandes homenageadas do famoso festival Gèlèdè, na Nigéria, realizado entre os meses de março e maio, que antecedem o início das chuvas do país, remetendo imediatamente um culto relacionado à fertilidade.

Através do poder procriador, tornaram-se conhecidas como as senhoras dos pássaros e sua fama de grandes feiticeiras as associou à escuridão da noite; por isso também são chamadas de Eleyé e as corujas são seus maiores símbolos.

A sua relação mais evidente é com o poder genital feminino, que é o aspecto que mais aproxima a mulher da natureza, ou seja, dos acontecimentos que fogem à explicação e ao controle humano. Toda mulher é poderosa porque guarda um pouco da essência das Iyá Mi; a capacidade de gerar filhos, expressa nos órgãos genitais femininos que sempre assustou os homens e as cantigas entoadas durante o festival Gèlèdè fazem alusão a esse terrível poder - que não pertence apenas às Iyá Mi, mas a qualquer mulher.

“Mãe destruidora, hoje te glorifico:

O velho pássaro não se aqueceu no fogo.

O velho pássaro doente não se aqueceu ao sol.

Algo secreto foi escondido na casa da Mãe ...

Honras à minha Mãe!

Mãe cuja vagina atemoriza a todos.

Mãe cujos pêlos púbicos se enroscam em nós.

Mãe que arma uma cilada, arma uma cilada.

Mãe que tem potes de comida em casa.”

As mães são compreendidas como a origem da humanidade e seu grande poder reside na decisão sobre a vida de seus filhos. É a mãe que decide se o filho deve ou não nascer e, quando ele nascer, ainda decide se ele deve viver. A mulher, especialmente nas sociedades antigas, tinha inúmeros recursos para interromper uma gravidez. E, até os primeiros anos de vida, uma criança depende totalmente de sua mãe; se faltarem seus cuidados a criança não vinga. Em síntese, todo ser humano deve a vida a uma mulher. Se todas as mulheres juntas decidissem não mais engravidar, a humanidade estaria fadada a desaparecer. Esse é o poder de Iyá Mi: mostrar que todas as mulheres juntas decidem sobre o destino dos homens.

“Mãe todo-poderosa, mãe do pássaro da noite.

Grande mãe com quem não ousamos coabitar

Grande mãe cujo corpo não ousamos olhar

Mãe de belezas secretas

Mãe que esvazia a taça

Que fala grosso como homem,

Grande, muito grande, no topo da árvore Iroko,

Mãe que sobe alto e olha para a terra

Mãe que mata o marido mas dele tem pena.”

Iyá Mi é a sacralização da figura materna, por isso seu culto é envolvido por tantos tabus. Seu grande poder se deve ao fato de guardar o segredo da criação. Tudo que é redondo remete ao ventre e, por conseqüência, as Iyá Mi. O poder das grandes mães é expresso entre os orixás por Oxum, Iemanjá e Nanã Buruku, mas o poder de Iyá Mi é manifesto em toda mulher, que, não por acaso, em quase todas as culturas, é considerada tabu.

As denominações de Iyá Mi expressam suas características terríveis e mais perigosas e por essa razão seus nomes nunca devem ser pronunciados; mas quando se disser um de seus nomes, todos devem fazer reverências especiais para aplacar a ira das Grandes Mães e, principalmente, para afugentar a morte.

As feiticeiras mais temidas entre os Iorubás e nos candomblés do Brasil são as Àjé e, para referir-se à elas sem correr nenhum risco, diga apenas Eleyé, Dona do Pássaro. O aspecto mais aterrador das Iyá Mi e o seu principal nome , com o qual tornou-se conhecida nos terreiros, é Oxorongá, uma bruxa terrível que se transforma no pássaro de mesmo nome e rompe a escuridão da noite com seu grito assustador.

As Yiá Mi são as senhoras da vida, mas o corolário fundamental da vida é a morte. Quando devidamente cultuadas, manifestam-se apenas em seu aspecto benfazejo, são o grande ventre que povoa o mundo. Não podem, porém, ser esquecidas; nesse caso lançam todo tipo de maldição e tornam-se senhoras da morte.

O lado bom de Iyá Mi é expresso em divindades de grande fundamento, como Apaoká, a dona da jaqueira, a verdadeira mãe de Oxossi. Dizem que o deus caçador encontrou mel aos pés da jaqueira e em torno dessa árvore formou-se a cidade de Kêtu.

Os assentamentos de Iyá Mi ficam junto a grandes árvores como a jaqueira e geralmente são enterrados, mostrando a sua relação com os ancestrais, sendo também uma nítida representação do ventre. As Iyá Mi, juntamente com Exú e os ancestrais, são evocadas nos ritos de Ipadé, um complexo ritual que, entre outras coisas, ratifica a grande realidade do poder feminino na hierarquia do Candomblé, denotando que as grandes mães são as que detém os segredos do culto, pois um dia, quando deixarem a vida, integrarão o corpo das Iyá Mi, que são, na verdade, as mulheres ancestrais.

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