domingo, 1 de maio de 2011

ZÉLIO DE MORAES E O CABOCLO DAS 7 ENCRUZILHADAS


PAI ZÉLIO FERNANDINO DE MORAES
Pintado pelas mãos de Claudio Gianfardoni.


CABOCLO DAS 7 ENCRUZILHADAS
Pintado pelas mãos do médium Jurandir da
Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade.

PAI ANTONIO.

Pai Antonio, Entidade que trouxe o primeiro ponto cantado da Umbanda e também o primeiro elemento a ser usado nos trabalhos:o cachimbo e também as guias, e que incorporava Zélio de Moraes.
A seguir o primeiro ponto cantado em um terreiro de Umbanda:

Minha cachimba tá no toco
Manda muréque buscá
Minha cachimba tá no toco
Manda muréque buscá
No alto da derrubada
Minha cachimba ficou lá
No alto da derrubada
Minha cachimba ficou lá ...


ORIGEM DA UMBANDA – 15 DE NOVEMBRO DE 1.908

ZÉLIO DE MORAES E O CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS

A primeira manifestação de Umbanda, sem influência kardecista e nem de Candomblé, com registro histórico é a do "Caboclo Sete Encruzilhadas" em seu médium Zélio Fernandino de Moraes, 15 de Novembro de 1.908. Assim como a "Tenda Nossa Senhora da Piedade” fundada por Zélio é o primeiro templo de Umbanda registrado no Brasil.


Por isso os fatos que ali aconteceram são de fundamental importância a todos nós, como fatos que marcam profundamente o nascimento da Umbanda no plano material.


Zélio Fernandino de Moraes nasceu no dia 10 de Abril de 1892, no distrito de Neves, município de São Gonçalo - Rio de Janeiro. Filho de Joaquim Fernandino Costa (oficial da Marinha) e Leonor de Moraes.


Em 1908, aos 17 anos, Zélio havia concluído o curso propedêutico (ensino médio) e preparava-se para ingressar na escola Naval, a exemplo de seu pai, foi quando fatos estranhos começaram a acontecer na vida dele. Em alguns momentos Zélio era visto falando manso, com a postura de um velho, em sotaque diferente de sua região, dizendo coisas aparentemente desconexas, em outros momentos parecia um felino lépido e desembaraçado, mostrando conhecer todos os mistérios da natureza. Isso logo chamou a atenção da família, preocupada com a situação mental do menino que se preparava para seguir carreira militar, os "ataques" se tornaram cada vez mais freqüentes.


Assim Zélio foi encaminhado a seu Tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande. Após vários dias de observação, não encontrando seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu a família que o encaminhasse a um padre, para que fosse feito um ritual de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estava endemoniado.


Foi chamado um outro parente, tio de Zélio, padre católico que realizou o dito exorcismo para livra-lo da possível presença do demônio e saná-lo dos ataques. No entanto este e outros dois exorcismos, acompanhados de outros sacerdotes católicos, não resolveram a situação e as manifestações prosseguiram.


Algum tempo depois Zélio foi tomado por uma paralisia parcial, a qual os médicos não conseguiam entender. Um belo dia Zélio levanta-se de seu leito e diz: "amanhã estarei curado" e no dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido.


Um amigo sugeriu encaminhá-lo a recém fundada Federação Kardecista de Niterói, município vizinho a São Gonçalo das Neves onde residia a Família Moraes. A Federação era então presidida pelo Sr.José de Sousa, chefe de um departamento da marinha chamado Toque Toque.


Zélio Fernandino de Moraes então foi conduzido a esta Federação no dia 15 de Novembro de 1908, na presença do Sr.José de Sousa, estava ele em meio aos ataques reconhecidos como manifestações mediúnicas. Convidado a sentar-se à mesa logo em seguida levantou-se, contrariando as normas do culto estabelecido pela instituição, afirmou que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho.

Sr.José de Sousa, que possuía também a clarividência, verificou a presença de um espírito manifestado através de Zélio e passou ao dialogo a seguir:


Sr.José: Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?


O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.


Sr.José: Você se identifica como caboclo, mas vejo em você restos de vestes clericais.


O espírito: O que você vê em mim, são restos de uma existência anterior. Fui padre, meu nome era Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrificado na fogueira da inquisição por haver previsto o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em minha última existência física Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.


Sr.José: E qual é seu nome?


O espírito: Se é preciso que eu tenha um nome, digam que eu sou o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS, pois para mim não existirão caminhos fechados. Venho trazer a Umbanda uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos séculos.


E no desenrolar da conversa Sr.José pergunta ainda se já não existem religiões suficientes, fazendo inclusive menção ao espiritismo.


O espírito: Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou pobre poderoso ou humilde, todos tornam-se iguais na morte, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar estes humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na Terra , também trazem importantes mensagens do além? Porque o não aos caboclos e pretos-velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?...Amanhã, na casa onde meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independente daquilo que haja sido em vida, todos serão ouvidos, nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais e ensinaremos aqueles que souberem menos e a nenhum viraremos as costas a nenhum diremos não, pois esta é à vontade do Pai.

Sr.José: E que nome darão a esta Igreja?


O espírito: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da mesma forma que Maria ampara nos braços o filho querido, também serão amparados os que se socorrerem da Umbanda.


No dia seguinte, na rua Floriano Peixoto, 30 – Neves – São Gonçalo – RJ, próximo das 20:00 horas, estavam presentes membros da federação espírita, parentes, amigos, vizinhos e uma multidão de desconhecidos e curiosos. Pontualmente as 20:00 horas o Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e com as palavras abaixo iniciou seu culto:


“Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui inicia-se um novo culto em que os espíritos de pretos velhos africanos e os índios nativos de nossa terra, poderão trabalhar em benefícios dos seus irmãos encarnados, qualquer que seja a cor , raça, credo ou posição social. A pratica da caridade no sentido do amor fraterno, será a característica principal deste culto”


Após trabalhar fazendo previsões, passe e doutrina informou que devia se retirar, pois outra entidade precisava se manifestar. Após a “subida” do Caboclo incorporou uma entidade reconhecida como “preto-velho”, saindo da mesa se dirigiu a um canto da sala onde permaneceu agachado. Sendo questionado o porquê de não ficar na mesa respondeu: “_ Nego num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve arespeitá”, após insistência ainda completou “_ Num carece preocupa não. Nego fica no toco que é lugar de nego” e assim continuou dizendo outras coisas mostrando a simplicidade, humildade e mansidão daquele que trazendo o estereótipo do preto-velho se fez identificar como Pai Antônio. Logo cativou a todos com seu jeito, ainda lhe perguntaram se ele não aceitava nenhum agrado, ao que respondeu: “_ Minha cachimba, nego qué o pito que deixou no toco. Manda moleque busca”. Todos ficaram perplexos, estavam presenciando a solicitação do primeiro elemento material de trabalho dentro da Umbanda. Na semana seguinte todos trouxeram cachimbos que sobraram diante da necessidade de apenas um para Pai Antônio. Assim o cachimbo foi instituído na linha de pretos-velhos, sendo também ele a primeira entidade a pedir uma guia (colar) de trabalho.


O pai de Zélio freqüentemente era abordado por pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo isso que vinha acontecendo em sua residência, sua resposta era sempre a mesma em tom de brincadeira respondia que preferia um filho médium ao lugar de um filho louco. Foi um trabalho árduo e incessante para o esclarecimento, difusão e sedimentação da religião de Umbanda. Enquanto Zélio esteve encarnado foram fundadas mais de 10.000 tendas. Após 55 anos de atividade entregou, a direção dos trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade a suas filhas Zélia e Zilméia. Mais tarde junto com sua esposa Maria Izabel de Moraes, médium ativa da tenda e aparelho do Caboclo Roxo fundou a cabana de Pai Antônio no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macau – RJ.


Zélio Fernandino de Moraes desencarnou no dia 03 de Outubro de 1975.


Suas filhas deram continuidade ao trabalho e a “Tenda Nossa Senhora da Piedade” existe até hoje sob a direção de Zilméia de Moraes sua filha que aos 88 anos de idade se mostra ainda muito lúcida e ativa na frente dos trabalhos.


PALAVRAS DO CABOCLO 7 ENCRUZILHADAS


"A Umbanda tem progredido e vai progredir. É preciso haver sinceridade, honestidade e eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a Umbanda; médiuns que irão se vender e que serão, mais tarde, expulsos, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a Umbanda progrida, seja forte e coesa.

Umbanda é humildade, amor e caridade - esta a nossa bandeira. Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na Umbanda do Brasil: Caboclos de Oxósse, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxósse, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão. Meus irmãos: sejam humildes, tenham amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham a baixar entre vós; é preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou aqui na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de Umbanda.


Meus irmãos: meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos 18. Posso dizer que o ajudei a casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa Umbanda. A maior parte dos que trabalham na Umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que safram desta Casa.


Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso. Assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher aquela que havia de ser sua mãe, este espírito que viria traçar à humanidade os passos para obter paz, saúde e felicidade. Que o nascimento de Jesus, a humildade que Ele baixou à Terra, sirvam de exemplos, iluminando os vossos espíritos, tirando os escuros de maldade por pensamento ou práticas; que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.

Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos melhorados e curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.


Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde Caboclo das Sete Encruzilhadas".

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