terça-feira, 10 de maio de 2011

SÃO JORGE E A LUA


SÃO JORGE E A LUA
José Maria Acquaviva

O dia 23 de abril é consagrado a São Jorge, que é símbolo do Espírito Santo de Deus simbolismo esse que remete ao Cristo e a todos os avatares.

São Jorge seria nesta representação símbolo do Eu Divino a tocar a fera (“toca”, não a fere) inconsciente justo no que há de divino nela e que ainda se encontra em estado latente, simbolizado pelo “fogo” do dragão e pela língua – que é vermelha.

Os elementos que autorizam esta interpretação são:

• A CAPA que lhe cai dos ombros é vermelha, cor que representa a consciência (pela passagem do verde do vegetal para o vermelho do animal), e que é símbolo: do “fogo do espírito” santo (cf. “línguas de fogo” do Pentecoste, por isso que, nesta data, na Igreja Católica, os Altares são normalmente enfeitados de “vermelho”), do “enxofre dos alquimistas”, que tinge o mercúrio sem perder sua qualidade, da mesma forma que a uva ou a tinta misturada ao álcool ou à água os tingem; do “vinho-tinto” que, sendo o álcool o “fogo líquido”, reforça a representação do Espírito Santo, do Espírito Consciente, do Eu Divino, do Cristo, razão por que é muito usado na eucaristia e nas oferendas ritualísticas das religiões afro-brasileiras, como oferta ao que há de mais sagrado em Deus e em nós.);

• O CAVALO BRANCO que monta é símbolo do subconsciente (melhor denominado de Eu-básico) já dominado pelas práticas espirituais e imaculado (branco), por ter sido purificado pelo fogo do Eu Divino (por este motivo, nas religiões afro-brasileiras, não raro as entidades que se manifestam, ao referirem-se aos seus médiuns o chamam de “cavalo” e São Francisco, ao referir-se ao corpo físico com seus desejos o chamava de “burrinho”. O subconsciente que já faz a prece, que leva a água (energia vital acumulada pelo devoto) ao Cristo (Eu Divino, aumakua, Deus interior) que a transformará em vinho espiritual (energia superior, mana-loa). Daí o costume de, brincando para não passar o sentido oculto, os africanistas lembrarem sempre de “dar o gole do santo” de tudo o que bebem, ou seja, “praticarem a lembrança de Deus constantemente com o envio das preces e carinhos ao nosso Pai Celestial”).

Ainda quanto às bebidas, a champanhe e cidras que estouram e jorram da garrafa são de si por si símbolo da prece, vez que fazem com que a “água ou vinho” (mana) sejam elevados aos céus, para que voltem como “vinho celestial”, como o “mel”, como “mana-loa”, ambrosia, como “chuva de bênçãos”.

Lembramos que o simbolismo de Deus como Sol, como cor vermelha, e das bênçãos que ele concede a quem Lhe faz contato como “chuva”, “vinho”, “mel” etc. dá surgimento a símbolos aparentemente contraditórios, como o do Arcano XIX do Tarô, a carta do Sol, que, estranhamente para o profano, “emite raios solares e pingos de chuva”, no entanto este é o mesmo símbolo da “língua”, que lembra a “chama do fogo” e é “molhada” pela “saliva”, simbolismo este sempre muito enfatizado pelas curas realizadas por Jesus e que é repetida por alguns “caboclos” nas religiões afro-brasileiras (nosso Chico Xavier, na infância, foi obrigado pela madrasta a “lamber as feridas” do filho desta, maldade esta praticada pelo uso distorcido do simbolismo e insensibilidade de um ser cruel). O hábito de se usar colar, ou “fio de conta”, tanto profanamente como nas religiões – principalmente nas afro-brasileiras, é em suma o mesmo símbolo da prece, ou seja, as “forma-pensamento criadas pelo Eu racional do homem (o lado esquerdo do cérebro, o bom ladrão, ou Uhane) que estão simbolizadas pelas contas, o “fio” simboliza a ligação, o fio de ectoplasma, o fio interior que liga ao divino e o “pescoço” seria aí reforço do simbolismo do caminho ascensional (que é feito pelo filho, pelo “mau-ladrão”, o subconsciente, eu-básico, ou unihipili).da prece ao Pai (o Cristo entre o bom e o mau-ladrão; o Eu Divino entre o racional e o intuitivo, entre o lado esquerdo e direito do cérebro este é o motivo pelo qual se usam sementes que parecem com o “cérebro” nas religiões afro-brasileiras, como a “cola”, a “noz” etc.) . O uso de piercing na base do nariz tem também a mesma representação, pois o piercing simbolizaria aí a “ forma-pensamento” (“semente de mostarda”) do que se quer realizar e o nariz simbolizaria o caminho por onde flui o ar (o pneuma, o espírito santo, a resposta da prece) e por onde se chega até o “topo da cabeça” (ao Cristo, à abóboda celeste).

• A LANÇA, como tudo o que voa para determinado “alvo” (e “alvo” aí no sentido tanto de meta/objetivo, como de também de “branco”, de pureza, de “Luz”) representa o que vôa ou o caminho para a Misericórdia de Oxalá, de Jesus, de Buda e de todos os que se realizaram na Fonte Suprema, no Grande Arquiteto do Universo. Por vezes representada como tridente (com o mesmo significado além da lembrança dos três eus e das três forças correspondentes do homem), como símbolo de caminho para o divino, como tudo o que é cilíndrico, ou que representa a passagem de algo de um lugar para o outro (a subida e descida das preces; a subida da água e a descida do vinho, representada na carta XIV dos Arcanos Maiores do Tarô; na taça que pelo próprio formato “eleva a bebida” e contém o vinho; no canudo, associado ao cabelo que leva à cabeça, ao cipó que leva ao topo da árvore, ao céu (este é o símbolo da corda e da “cabaça” muito utilizado nos ritos primitivos e nas religiões afro-brasileiras, e representa a subida da prece, da água da cabaça, ao Pai pelo caminho espiritual, simbolizado pela “corda” ); ao “dedo” , coluna vertebral e do templo; ao “bambu” (muito utilizado nas religiões afro-brasileiras para oferendas de milho ou canjica, com o mesmo sentido da oração como anteriormente exposto quanto à vela) à “bengala” (aquilo que ajuda o homem a caminhar, a não cair, ou seja, o contato com o Alto pela oração), à “cana” (por onde desce o mel, a doçura da resposta da prece, o mana-loa dos kahunas); ao milho com suas sementes e cabelos; ao quiabo (símbolo perfeito da prece, com as sementes/formas pensamentos, embebidas na baba/força vital, mana acumulada e enviada ao Pai); e a tudo que possui fogo (Deus) ou luz na ponta (cachimbo, charuto, cigarro, vela, incenso, túnel etc O simbolismo é tão evidente que em um ponto se diz: “Ogum não devia beber, Ogum não devia fumar; mas a fumaça são as nuvens que passam, e a espuma a onda do mar”. “Nuvem” , por estar no “céu” , morada simbólica de Deus, é símbolo da benção que este envia; a “onda” , por sua vez, principalmente se lembrado que normalmente seqüências de onda fortes não ultrapassam 7, segundo os pescadores, representa uma “tentativa de se diferençar; de sair do mar da inconsciência”, ou seja, demonstram o princípio de atividade consciente no mar da inconsciência e a “espuma branca do mar” justo por ser “branca” remete ao mesmo significado do “fogo na boca do dragão” , ou seja, seja, representa o “DIVINO IMANENTE EM CADA SER”, ‘a “Bela Adormecida”, que tem de ser despertada por um ‘beijo´ (por um toque do divino, do “vermelho” dos lábios) por quem já conseguiu atravessar a mata verde da inconsciência e enfrentou o cipoal que o prende à ilusão e as feras que são as sombras interiores.

• O DRAGÃO, por ser verde simboliza a inconsciência (no entanto, ele voa, ou seja, vai aos céus, a Deus), simbolismo este vindo do mundo vegetal, onde há imobilidade e pouca individuação (as folhas das árvores são todas quase iguais, sendo que, nesse ponto, a flor, como diz GOEHTE, é símbolo do esforço do mundo vegetal em se individuar, se diferençar). Na passagem do vegetal para o animal, há o ganho de mobilidade, de individuação, da capacidade de dizer Eu Sou, ganho de consciência, motivo pelo qual se afirma nas Igrejas Cristãs que o “SANGUE” de Jesus tem poder! O dragão também seria amedrontador, como nossas próprias sombras o são, o que é símbolo daquilo que nos dificulta o domínio de nós mesmos e o ganho de consciência (a luta simbólica do cavaleiro com o dragão). Tanto o verde do dragão, como o verde das matas, como o verde do mar simbolizam ora o inconsciente como um todo, ora apenas nosso subconsciente e nossas sombras. O “andar sobre as águas” (de Jesus, de São Pedro e de outros santos e Iogues) é andar sobre o “verde da inconsciência”, representa o término do processo de individuação, daquele que já domou os seus instintos e pode andar sem se perder no “mar do inconsciente”, tanto como o peixe e os “jangadeiros”, “marinheiros” e “navegadores” nomes de entidades adotados principalmente nas religiões brasileiras, bem como os de “índios e caboclos”, que são os que “sabem andar dentro do mata da inconsciência sem se perderem, porque moram lá.”. O simbolismo do verde, tão evidente no dragão, é rico e remete, pelo “mar” à “nau” (representado nas “naves” das Igrejas e na Mitra Epicospal que é um peixe com a boca aberta para o céu), a água do mar, por ser salgada ao choro, à lágrima, ao feminino, ao yin, à mãe, à lua e esta ao quarto crescente pisado pela Virgem da Conceição – que remete pelo formato novamente ao barco (daí os barcos oferecidos à Iemanjá e outras deusas ou representações do feminino).; (enquanto o sol remeteria ao Pai, ao dia, ao fogo, ao yang etc.).

O símbolo de São Jorge tocando a língua do dragão, como representação do processo de individuação, de tomada de consciência, sendo feita sob a supervisão de ser divino (São Jorge) é comum em várias religiões sob forma variada, pois que o TAO, por exemplo, representa justo isso, que em todo Yin existe em potencial o Yang e que em todo Yang existe em potencial o Yin; e também que em todo ser inconsciente está a consciência em estado potencial. Por este motivo, São Jorge, o guerreiro, Pai, Sol,Yang, consciência, está também na Lua/inconsciente como diz o ponto: “São Jorge está na lua…” e Ele é Ogum Beira-Mar ou Sete-Ondas, simbolo igual ao de Jesus à beira do lago de Genesaré olhando para este., o SerDivino que assiste nossa evolução.

Como a pedra bruta interior é também simbolizada pela pedreira que precisa ser trabalhada pelos pedreiros, com o cinzel da caridade e o malho da disciplina, há ponto para Ogum que diz: “Ogum, guarda a pedreira, mandado por Oxalá. Com a espada lança…

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